Acredito que este capítulo do livro Felicidade Autêntica seja muito marcante para a Psicologia e Psiquiatria. Para quem não conhece o autor, Martin Seligman, ele estava como presidente da Associação Americana de Psicologia quando escreveu este livro. Famoso também por ser o pesquisador referência do termo Desamparo Aprendido.
Quais as missões da Psicologia?
Logo no início em meio às ligações interrompidas por falta de sinal de celular, o autor faz algumas perguntas a si mesmo, e vê o que anda realmente acontecendo com a Psicologia, no início e continua até hoje, as três missões principais da psicologia são:
Curar a doença mental
Tornar a vida das pessoas comuns mais feliz, mais produtiva e plena
Identificar e apoiar jovens excepcionalmente talentosos (estudo de talentos)
Vendo historicamente como a psicologia se tornou sinônimo de tratamento de doença mental e concluindo:
"Sua missão histórica de fazer a vida das pessoas comuns mais produtivas e plena fica em segundo plano em relação à cura de desordens, e as tentativas de identificar e apoiar gênios são praticamente abandonadas."
Um pouco sobre Desamparo Aprendido
Martin Seligman participou do estudo do "desamparo aprendido" com Steve Maier e Bruce Overmier. Descobriram que cachorros submetidos a choque elétricos aos quais não podiam evitar, desistiam de escapar dos choques e os aceitavam passivamente mesmo quando podiam escapar.
Resumindo o tema, isto também acontece com os seres humanos. Quando uma pessoa é colocada em determinada situação à qual nada pode fazer, ela se acomoda mesmo sofrendo àquela dor, física ou mental. Com a convicção que nada pode ser feito. Se você conhece alguém assim, passe este post para que ela possa ter consciência que algo pode ser feito, busque terapia que investiguem as causas e não somente métodos para superar o desafio, ambos são importantes mas o primeiro trata a causa, como a Psicanálise.
O foco na doença
A psicologia é um círculo fechado que imita outro círculo fechado chamado psiquiatria. - Thomas Szasz
Seligman cita como lá no DSM-III apensa se você tiver cinco de nove sintomas severos estará realmente deprimido.
Agora fica uma pergunta minha: "Precisamos esperar cinco sintomas acontecerem para diagnosticar uma depressão e assim iniciar o tratamento?"
Eu como Psicanalista não posso realizar diagnósticos, porém fica claro que as pessoas, mesmo as que não estão com cinco sintomas, já precisam imediatamente iniciar um tratamento para não chegar a ela.
Por este e outros aspectos, a psicologia acadêmica focou somente nas desordens psiquiátricas. Isto não quer dizer que foi ruim, mais de 10 bilhões de dólares foram investidos por ano para buscar métodos para o tratamento de muitos problemas mentais. E houve grande avanço com o tempo.
Porém, Seligman não estava satisfeito com essa ênfase exclusiva na descoberta de deficiências e reparo nos danos:
Observo o crescimento e a transformação desses pacientes quando percebem o quanto são fortes.(...)
O que não se enquadra nos modelos da psiquiatria.
Ele estudou o desamparo aprendido por mais de uma década, e havia uma inconsistência diante da própria descoberta, que um em cada três indivíduos, possuíam uma força que não o permitiam desistir, assim como um em cada oito tinha uma certa predisposição para se sentir impotente.
Sendo estas forças um dos temas deste livro.
Também autor dos livros: Aprenda a ser otimista e A criança otimista, demonstra já uma diferença na visão do autor quando se trata prevenção, que foi o tema base quando foi eleito presidente da APA.
O primeiro livro na verdade era um guia para ele mesmo, sendo um pessimista radical, utilizava o próprio livro para mudar seu estado mental. Enquanto o segundo, explica os detalhes de como ensinar crianças de dez anos a pensar e agir com otimismo reduz pela metade o número de deprimidos ao chegarem à adolescência.
O início da Psicologia Positiva
Mas quando iniciou seu mandato tinha outro desafio, as pesquisas vinha do mesmo modelo de doença, apensa colocando os tratamentos que tinham dado certo e aplicar mais cedo nas pessoas em situação de risco.
Assim ele fala das duas restrições que o deixavam com o pé atrás:
Primeiro, remediar as deficiências não ajudavam a estimular as forças que, mesmo o grupo de risco iminente, poderiam ser estimuladas e assim serem menos vulneráveis.
Segundo, que o uso de substâncias em crianças poderiam simplesmente não dar resultados e que atrairia somente pesquisadores medíocres por buscar um processo diferente do que o tratamento em si da doença:
Um dos motivos para se preferir trabalhar com o pior lado da vida é ser considerado mais excitante. Essa ideia tem origem na observação de Tolstói de que as famílias infelizes são interessantes, porque cada uma é infeliz a seu modo. Famílias felizes, por outro lado, não têm graça, porque são todas felizes do mesmo jeito. A inferência de Tolstói é que a uma ciência sobre o lado alegre da vida seria maçante.
Apesar disto, um evento mudou todo o futuro.
Seligman era uma pessoa chata e mal-humorada, autointitulada. Que focava em seus objetivos e não gostava de perder tempo.
O relado do próprio autor:
(...) quando decido cuidar do jardim, eu cuido. Nikki, no entanto, ficava jogando o mato para o alto, cantando e dançando - me distraindo. Reclamei, e ela se afastou. Em pouco minutos estava de volta, dizendo:
"Pai, quero falar com você"
O que foi Nikki?
Você se lembra de quando eu ainda não tinha cinco anos? De quando eu tinha três até cinco anos, eu era uma chorona. Eu chorava todo dia. No dia do meu aniversário de cinco anos, decidi que não ia mais chorar. Foi a coisa mais difícil que já fiz. Mas se eu posso parar de chorar, você também pode parar de ser tão mal-humorado.
Posso dizer que foi Nikki que fundou a Psicologia Positiva?
Seligman percebeu que naquele momento sua filha utilizou uma força precoce, a inteligência social. Percebeu que educar Nikki não era corrigir suas faltas mas ajudá-la a moldar a vida em torno desta força.
Educar filhos, hoje eu sei, é muito mais que corrigir maus comportamentos, é identificar e estimular suas forças e virtudes, ajudando-os a encontrar o nicho onde possam exercitar ao máximo esses traços positivos.
Conclusão
Ufa! Que capítulo cheio de reviravoltas. Fala realmente de como a psicologia se perdeu, focando somente nas doenças e seus tratamentos, sendo então Seligman o início na nova geração de pesquisas focadas agora na prevenção.
E com certeza temos um grande ensinamento, que apesar de algumas decisões serem difíceis, precisamos tomar certar atitudes e decidir por nossa própria força de vontade, Nikki parou de chorar, Martim, deixou ser mal-humorado.
Mais do que isso, também é perceber que, antes de uma doença ou problema se estabelecer, existem maneiras de diminuir pela metade os grupos de riscos de adoecerem pelo estímulo da utilização de forças, virtudes e talentos.
Qual a mudança que você precisa realizar hoje? Qual a sua decisão? O que tem mantém preso ou presa a algo que não te faz bem?
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